sexta-feira, 9 de março de 2012

memória


Descubra como a memória funciona e veja as dicas para melhorá-la

Você anda muito esquecida? Não é motivo para desespero. Veja as maneiras de deixar seu cérebro ligado e entenda por que você não precisa se lembrar de tudo.
saude-como-a-memoria-funciona
(Foto;)
Como se chama mesmo aquela atriz? O nome está na ponta da língua, mas não vem. Você tenta vasculhar seu cérebro como se estivesse revirando caixas de um cofre à procura de algo escondido ali, em algum canto, embora não saiba bem onde. A memória é uma das habilidades mais fantásticas do ser humano. E também uma das menos conhecidas. Estudos recentes estão ajudando a solucionar os mistérios que ela guarda. Com base em métodos de neuroimagem, que revelam o cérebro em funcionamento, e em experiências com animais de laboratório, eles mostram que a memória é muito mais do que um velho álbum de lembranças, não fica armazenada num único lugar do cérebro e atua de modo totalmente diferente do disco rígido do computa dor. A importância dela para a sobrevivência foi confirmada e se reforçou a tese do famoso pensador italiano Norberto Bobbio (1909-2004) de que “somos aquilo de que lembramos”. Os trabalhos também provaram algo surpreendente: que nós fomos feitos para esquecer. “O saudável é não se lembrar de tudo. As pessoas precisam parar com tantas cobranças a cada lapso de memória que eventualmente acontece”, diz a neurocientista Suzana Herculano-Houzel, professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro e autora do livro Pílulas de Neurociência para uma Vida Melhor (Ed. Sextante). Um trabalho da equipe do neurocientista Iván Izquierdo, da PUC do Rio Grande do Sul, publicado na revista Science, concluiu que as memórias são arquivadas 12 horas após a ocorrência do fato graças à dopamina, neurotransmissor associado às sensações de prazer. Ao se bloquear a ação desse mensageiro químico no cérebro de ratos, exatamente naquele horário, a memória foi apagada. Aplicando uma dose extra da substância, ela se fixou com mais intensidade. Izquierdo foi uma das estrelas do 6º Congresso Brasileiro de Cérebro, Comportamento e Emoções, que reuniu conceituados neurocientistas nacionais e especialistas internacionais em Gramado (RS).
O dom de esquecer
O relato mais célebre de alguém capaz de se recordar de tudo é ficcional. Após um acidente, o personagem Funes, o Memorioso, do argentino Jorge Luis Borges, passa a ter uma memória tão prodigiosa que não faz mais nada, naufragado em lembranças. “Ter memória perfeita seria trágico”, avalia Suzana. “Uma fração mínima do que ocorre importa e merece ser recordada. Por que precisamos nos lembrar da roupa de pessoas com quem cruzamos no corredor? Gastaríamos tempo com algo irrelevante. Informação demais atrapalha.” Izquierdo afirma que é impossível ser como Funes: “A exatidão e a abundância de detalhes saturariam o cérebro a ponto de impedi-lo de processar novos dados. Além disso, é necessário esquecer para poder fazer generalizações e pensar”. Não é à toa que o neurobiólogo James McGaugh, da Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos, diz que “o aspecto mais notável da memória é o esquecimento”. O que a ciência quer desvendar é como o cérebro seleciona a informação que merece ser guardada. As pesquisas constataram que a capacidade de guardar um dado está ligada à sua relevância emocional e à repetição, explica o neurologista André Palmini, professor da PUC gaúcha e um dos coordenadores do congresso de Gramado. Quanto mais emoções uma informação despertar ou quanto maior o número de vezes que ela for acessada, mais a memória se solidifica. O inverso é verdadeiro: se usamos menos uma informação, aumentamos as chances de perdê-la. Nem tudo o que é adquirido forma memórias; elas não ficam para sempre e a perda não é só fruto de lesão nas vias nervosas, esclarece Izquierdo no livro A Arte de Esquecer (Ed. Vieira & Lent). Para ele, lembranças nascem a partir de sinapses (conexões entre os neurônios) e, sem uso, muitas evaporam. O que faz a lembrança persistir é repeti-la, formar associações, envolver todos os sentidos.
 Recordar é viver
“Ao acordar, sabemos quem somos, quem dorme do nosso lado, como preparar o café, o que fizemos ontem e que tarefas teremos hoje”, diz a psicóloga Lílian Stein, professora da PUC gaúcha. “A gente só percebe quando ela ‘falha’ ao esquecer uma senha ou a chave do carro.” Para Lílian, a maior parte das pessoas tem ótima memória. “Lapsos ocasionais são normais. Já quem sofre de amnésia, por doenças como o Alzheimer, em geral não percebe a perda de memória”, afirma. Sem contar que muitos esquecimentos decorrem de distração por estar às voltas com atividades simultâneas ou excessivas. “A falta de concentração prejudica o registro do fato, e um registro fraco dificulta a evocação posterior”, explica o professor de neurologia e neuropsicologia Benito Damasceno, da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp.
Em que caixa está?
A memória se compõe de fragmentos guardados em vários locais do sistema nervoso central. Neurônios de pontos distintos se conectam formando redes semelhantes às ruas e avenidas de uma cidade. Por isso, diversas regiões são ativadas ao se recordar de um fato. A principal envolvida na formação e evocação de lembranças é o hipocampo, mas outras estruturas são requisitadas, como a amígdala (que ajuda a memorizar os episódios de forte conteúdo emocional) e o córtex. Nele, o ponto exato depende do tipo da informação: se for verbal, serão mobiliza das as áreas da linguagem; se for ligado aos movimentos, o córtex motor. Numa relação amorosa, as memórias carregam imagens, sons, aromas, emoções, enfim, múltiplos fragmentos. As grandes redes de neurônios se reativam em segundos. Basta um estímulo (ouvir uma risada semelhante à do amado) para ligar todo o sistema. Há também as de curto prazo (memória de trabalho), que permitem lembrar um número de celular, e as de longo prazo, que demoram horas para ser fixadas.
Pérolas falsas
É possível recordar fatos que jamais ocorreram. No livro Falsas Memórias (Ed. Artmed), Lílian Stein cita uma mulher que aos 40 anos dizia ter dançado a valsa de debutante com o pai. Mas ele estava com o pé engessado. A valsa jamais ocorrera. Isso mostra como a memória não é fotográfica, resulta de um processo de reconstrução, retomado cada vez que a lembrança é evocada, como no velho ditado: “Quem conta um conto aumenta um ponto”. Assim, a psicóloga contesta a veracidade de um testemunho: “É mais provável que uma história contada sempre do mesmo jeito se baseie em falsas memórias. As verdadeiras surgem fragmentadas e deixam buracos”. Ela chama a atenção para o falso conceito de que as lembranças registradas com emoção são sempre fidedignas. Gravamos melhor essas memórias, o que não significa que elas sejam imunes à distorção: a cada evocação elas podem ser reformadas.
Cérebro cibernético
O computador faz um registro fiel, por isso não dá para compará-lo à memória. A escritora americana Martha Lear aponta no livro Onde Deixei Meus Óculos (Ed. Sextante) que o disco rígido é depósito de conhecimentos para reprodução. Repete tudo ou não se lembra de nada. Já a memória humana está cheia de meios-termos; lembra o que abstraiu de experiências, aciona a criatividade e planeja ações diferentes. Para Damasceno, embora o computador ganhe de nós no volume de dados armazenados, nossa memória é mais rica em versatilidade, estabelece associações: “Com elas, tomamos decisões, enfrentamos um mundo complexo e mutante”. Entusiastas da tecnologia esperam que no futuro acessórios como um chip posto no cérebro deem suporte à memória. Os americanos Gordon Bell e Jim Gemmell passaram dez anos registrando, por meio de câmeras fotográficas, o cotidiano de Bell, que virou um vasto arquivo digital, descrito no livro O Futuro da Memória: Como Esta Transformação Mudará Tudo o Que Conhecemos (Ed. Campus). A expectativa é que possibilite melhor controle da saúde, reforce laços afetivos e aumente a produtividade. Os críticos questionam se o homem necessita disso. Embora não negue a utilidade dos periféricos” e “memórias acessórias”, Izquierdo alerta para a importância de não nos deixar atropelar pelo excesso de informação como método de sobrevivência.
Para lembrar
Leia mais
Segundo Iván Izquierdo, nenhuma outra atividade mobiliza tantas variedades de memória e áreas cerebrais distintas quanto a leitura.
Treine a mente
Um novo idioma, palavras cruzadas, xadrez, exercícios para a memória e jogos de associações no computador estimulam as conexões entre os neurônios.
Faça exercícios regularmente
Eles aumentam o fluxo de sangue para o cérebro, melhorando a oxigenação e todas as funções cognitivas.
Durma o suficiente
Um sono de qualidade que permita acordar bem-disposto no dia seguinte é essencial para o bom funcionamento da memória.
Alimente-se bem
Cientistas verificaram que uma dieta saudável para o coração também beneficia o cérebro. Capriche no consumo de fibras (frutas, verduras e grãos integrais), gorduras saudáveis como azeite, ácidos graxos Ômega 3 (sardinha, salmão, cavala) e laticínios desnatados.
Invista em medidas práticas
Estabeleça locais fixos para guardar as chaves, os óculos, a carteira e o que costuma perder. Faça listas de afazeres e, quando não quiser esquecer o nome de alguém, associe a frases, imagens, sensações e emoções.
Procure concentrar a atenção
Fixe cada fato importante para registrá-lo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário